domingo, 4 de dezembro de 2011

A contradição de Jericoacoara

Bom, em meados de 2009, a pretexto de realizar a pesquisa de campo de minha monografia de conclusão de curso, visitei Jericoacoara para analisar quais impactos ambientais foram provocados pelos empreendimentos turísticos lá instalados. Escolhemos focalizar nos empreendimentos turísticos porque são de longe o principal vértice da atividade turística, e também os que mais causam impactos ao meio ambiente. 


Jericoacoara, que é conhecida, inclusive entre os profissionais da área de turismo, como sendo um dos locais onde o turismo se desenvolve de maneira sustentável (o que não é verdade, como pudemos observar) era uma comunidade de pescadores e agricultores um tanto isolada das grandes cidades cearenses. 


Até que a praia foi "descoberta" no fim dos anos 70 por viajantes. A partir daí ela experimentou um crescimento vertiginoso, mas também uma degradação sócio-ambiental nunca antes vista por lá. Os pescadores viraram mensageiros de pousadas e garçons de restaurantes. O poder público, observando o crescimento dessa região, resolveu criar uma APA em 1984, o que não resultou propriamente em preservação do meio ambiente. 


No final da década de 90, devido a uma reportagem do The New York Times colocando a praia de Jericoacoara entre as 10 mais belas do mundo, o turismo explodiu de vez, levando uma quantidade inacreditável de pessoas para aquele ambiente tão frágil, onde existem mangues, dunas móveis, dentre outros ecossistemas. 


Mais uma vez o poder público reagiu, em vez de agir, e criou o Parque Nacional de Jericoacoara em 2002, porém a Vila de Jericoacoara, onde as pousadas e equipamentos turísticos estão instalados, ficou de fora do Parque Nacional (mesmo ele sendo ampliado em 2007), virando uma zona de proteção especial, o que em outras palavras possibilita inúmeras atividades que não poderiam ser exercidas dentro do Parque Nacional. 


Na pesquisa realizada, constatamos que, por não existir esgotamento sanitário (há dois anos a ETE ainda estava sendo construída), os rejeitos líquidos eram armazenados em fossas rudimentares, tanto as das casas como das pousadas, e grande parte da água usada para consumo era proveniente de poços artesianos, incluindo aí as águas usadas nas pousadas. 


Como Jericoacoara se encontra numa região litorânea, seu lençol freático é mais próximo à superfície, o que causou contaminação da água, pois as fossas tiveram que aumentar a profundidade e a quantidade. 


Também observamos pontos em que a água do mar estava poluída devido a esgotos clandestinos jogados in natura no mar. O lixo se transformou em outro problema da Vila, já que o acesso a ela é difícil, a coleta só era realizada uma vez por semana, o que não dava conta da quantidade de lixo produzida durante a alta estação. 


A capacidade de carga da região não era respeitada, sendo observadas quantidades cada vez maiores de pessoas, veículos passeavam tranquilamente pelas dunas de Jericoacoara, que é um corredor natural para elas. 


As edificações não respeitavam a altura limite, que era apenas de um pavimento, o que posteriormente foi aumentado para dois, mas mesmo assim era desrespeitado. Enfim, inúmeros exemplos de degradação ao ambiente natural da região. Enquanto a população obtêm muito pouco do que o turismo produz. Enfim, estes são pequenos exemplos extraídos da pesquisa. 


Durante a mesma, traçamos paralelos com regiões semelhantes, onde o turismo também conheceu igual crescimento, Bariloche, na Patagônia argentina é um bom exemplo de turismo realizado de forma racional e sustentável. Queremos desenvolvimento sim, mas será que a este preço?


Paulo Nicholas Mesquita Lobo

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